A médica Adriana Melo, presidente do Instituto Paraibano de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto, de Campina Grande, visitou o Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CpqAM/Fiocruz) na última segunda-feira (04.07). A pesquisadora, que atua em gestações de alto risco, veio para trocar experiencias com o Grupo de Pesquisa da Epidemia da Microcefalia.

Adriana Melo foi uma das primeiras a atender crianças com microcefalia na Paraíba e a relacionar os casos com o vírus zika.

Da Fiocruz / National Institutes of Health

A Fundação Oswaldo Cruz e os Institutos Nacionais da Saúde (NIH), agência governamental do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, começaram um estudo de coorte em múltiplas localidades para avaliar a magnitude dos riscos à saúde que infecções pelo vírus zika colocam a mulheres grávidas e em seus fetos em desenvolvimento. O estudo está sendo iniciado em Porto Rico e será expandido para diversas localidades no Brasil, na Colômbia e em outras áreas que enfrentam transmissões locais do vírus.

O estudo Zika in Infants and Pregnancy-ZIP (Zika em Grávidas e Bebês) planeja inscrever até 10 mil mulheres a partir de 15 anos, em até 15 localidades. As participantes deverão estar no primeiro trimestre de gravidez e serão acompanhadas ao longo de suas gestações para determinar se foram infectadas pelo vírus zika e quais foram as consequências da infecção para mãe e feto em caso positivo. Os bebês das mães participantes serão acompanhados por ao menos um ano após o nascimento. Das 10 mil gestantes que o estudo acompanhará, 4 mil serão brasileiras, no início da gestação, que ainda não tenham tido zika, moradoras do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Ribeirão Preto.

O estudo pretende comparar os resultados das gestações entre mães infectadas e não infectadas por zika, documentando a frequência de abortos espontâneos, nascimentos prematuros, microcefalia, malformações do sistema nervoso e outras complicações. O estudo também vai comparar o risco de complicações na gravidez entre mulheres que tiveram sintomas de infecção por zika e aquelas que foram infectadas mas não tiveram sintomas. Além disso, avaliará como a infecção altera embriões e fetos e o papel que ambientes, determinantes sociais da saúde e outras infecções, como casos prévios de dengue, podem interferir na saúde das participantes do estudo e dos recém-nascidos.

As participantes do estudo ZIP serão monitoradas mensalmente no pré-natal e terão exames colhidos semanalmente, até seis semanas após o parto. Elas passarão por exames físicos e terão amostras de sangue, urina, saliva e secreções vaginais colhidas. Recém-nascidos cujas mães autorizem a participação serão avaliados 48 horas após o nascimento e novamente aos 3, 6, 9 e 12 meses.

“Esta é uma absoluta prioridade do Ministério da Saúde e da Fiocruz. Como instituição, congregamos expertise no conjunto de desafios colocados pelo vírus zika que serão empregadas neste estudo, tal como as interações biológicas do vírus, cuidados materno-infantis e o desenvolvimento de tecnologias diagnósticas. A Fiocruz considera o estudo em parceria com o NIH essencial para elucidar a complexidade científica da doença. Será fundamental para ajudar a desenvolver estratégias de prevenção e tratamento contra o problema”, observa o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha.

“É o único desenho de estudo capaz de dar conta da história natural da doença, isto é, entender quais são os problemas que a enfermidade causa, os cofatores que influenciam sua gravidade e os problemas que o bebê pode apresentar depois da exposição da mãe. O único jeito de responder isso é realizando um estudo de coorte com um número grande de recém-nascidos”, afirma a coordenadora da Unidade de Pesquisa Clínica do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Maria Elizabeth Moreira Lopes.

“A abrangência completa dos efeitos da zika na gestação ainda não foram determinados”, diz o diretor do NIAID, Anthony S. Fauci. “Este estudo em larga escala promete oferecer dados novos importantes que ajudarão a orientar as respostas públicas e médicas à epidemia de vírus zika”.

O Ministério da Saúde, o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), o Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz) e órgãos integrantes do NIH, como o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), o Instituto Nacional de Saúde da Criança e Desenvolvimento Humano (NIHCD) e o Instituto Nacional de Saúde Ambiental estão financiando e conduzindo o estudo. A Fiocruz conta com a parceria de vários institutos e universidades brasileiras, além das secretarias municipais e estaduais de Saúde.

Com o propósito de harmonizar protocolos de estudos sobre o impacto da infecção pelo vírus da zika em gestantes, bebês e adultos e descrever os resultados das análises, será realizado um encontro na Cidade do México de 14 a 16 de junho com representantes de vários países.

O encontro, patrocinado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é um desdobramento da reunião que aconteceu no Recife em março deste ano. Agora, o objetivo é finalizar a referida harmonização e pactuar os próximos passos. Com a harmonização dos protocolos, será possível ter a mesma definição de caso, exames e a mesma dinâmica de coleta das informações. Isso possibilita comparar os casos entre os países e chegar a um resultado mais significante estatisticamente.

Nesta terça (07.06), os pesquisadores do MERG convidaram representantes de outras instituições para consolidar as sugestões para o processo de harmonização. No México, o MERG será representado pelos pesquisadores Ricardo Ximenes, Demócrito Miranda, Maria de Fátima Militão, Carlos Brito e Gilvan Mariano.

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Durante três dias, entre 14 e 16 de junho, pesquisadores latinoamericanos estiveram reunidos na cidade do México discutindo a harmonização dos protocolos de estudos sobre a infecção pelo vírus da zika em gestantes, bebês e adultos. O objetivo da iniciativa é padronizar as definições de caso e controles, exames, instrumentos de coleta das informações, possibilitando padronizar as informações de diferentes países e, com isso, ter resultados mais consistentes.

De acordo com o pesquisador Ricardo Ximenes, do Grupo de Pesquisa da Epidemia da Microcefalia (MERG), foram criados diversos grupos de trabalho para a discussão. O epidemiologista participou dos debates sobre coorte de gestantes, enquanto o infectologista Demócrito Miranda, também do MERG, discutiu a coorte de crianças e caso-controle. Segundo Ximenes, foram feitas propostas de informações mínimas para padronizar as pesquisas. Agora, os dados do evento estão sendo computados para a divulgação do resultado final.

Também pelo MERG, Gilvan Mariano, do Serviço de Informática da Fiocruz PE, liderado por Jaime Ferraz, apresentou a plataforma de gestão dos questionários de pesquisa do Grupo. Pelo sistema, que vem sendo melhorado de pesquisas anteriores, são anexadas as informações e, automaticamente, há o processo de gestão dos dados. Mariano também destacou as medidas de segurança para evitar o vazamento de informações. Segundo ele, houve receptividade dos pesquisadores para uso da plataforma em seus estudos.

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Na tarde da última quinta-feira (26.05), estudiosos do Grupo de Pesquisa da Epidemia da Microcefalia (MERG) e do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães CCPqAM / Fiocruz PE) receberam uma comitiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) com o intuito de apresentar os projetos de pesquisas relacionados ao zika vírus e à microcefalia que estão em desenvolvimento na instituição. O encontro foi acompanhado pelo diretor do Aggeu, Sinval Brandão Filho.

Segundo Maria José Douglas, especialista em monitoramento e avaliação da Unicef, a comitiva está visitando alguns Estados brasileiros para conhecer a resposta que o país está dando aos casos de zika e de microcefalia, objetivando fazer uma documentação das informações e, com isso, compartilhar com outros países. Ela ainda reforçou a necessidade de conhecer esse panorama para criar estratégias que auxiliem as crianças microcéfalas e seus familiares e lidar com a situação, além de ajudar as comunidades no combate ao mosquito Aedes aegypti.

Pelo MERG, foram apresentados o estudo de caso-controle, que compara um grupo de crianças, nascidas vivas ou mortas, com microcefalia e outro grupo formado por meninos e meninas sem essa malformação congênita; e a coorte de gestante, que compara um grupo exposto a um fator de risco (gestante com exantema) e outro grupo não exposto (gestante sem exantema), para verificar a infecção pelo zika e as ocorrências de microcefalia e outras alterações neurológicas em crianças. Fizeram as apresentações Thalia Barreto de Araújo (UFPE) e Ricardo Ximenes (UPE/UFPE).

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Pelo Aggeu Magalhães, foram detalhados o estudo ecológico, que analisa o uso de larvicida químico para o combate ao Aedes aegypti e os fatores sociais determinantes para a epidemia; os trabalhos desenvolvidos pelo setor de Virologia para o desenvolvimento de vacinas e produtos de diagnóstico do zika; e os estudos sobre o controle do vetor. Os dados foram expostos por Wayner Vieira de Souza, Rafael Dhalia e Constância Ayres, todos pesquisadores do Aggeu.

De acordo com Cristina Albuquerque, chefe da Sobrevivência Infantil e Desenvolvimento da Unicef Brasil, o encontro dará subsídios para auxiliar nas propostas de intervenção da Organização Mundial de Saaúde (OMS). Ela disse que foi importante ter o olhar da academia sobre a situação e que saber mais sobre as pesquisas em desenvolvimento possibilitará a Unicef dar suporte ou fazer conexões com outros trabalhos semelhantes que estão sendo feitos em outras instituições.

Atualmente, a Unicef tem trabalhado para contribuir com o controle do vetor do zika vírus, nas mobilizações sociais nas comunidades, no cuidado e apoio às crianças com microcefalia e seus familiares e no desenvolvimento de vacinas e métodos de diagnóstico rápido.

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