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O Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia (MERG) participa, em Brasília, da Oficina Marco Zero – Projetos de Pesquisa da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (MS). Durante o evento, que ocorre nesta quinta-feira (10.11), serão discutidos detalhes metodológicos de pesquisas relacionadas ao zika vírus que contam com financiamento do MS.

Do MERG, estará em discussão a pesquisa intitulada Síndrome de Zika Congênita: estudo clínico epidemiológico a partir de coortes populacionais e em serviços de saúde envolvendo gestantes e crianças. Os trabalhos estão sendo coordenados pelos pesquisadores Demócrito Miranda (coorte de crianças), que está participando da oficina, e Ricardo Ximenes (gestante).

A coorte de gestante busca avaliar o risco de desfechos adversos em mulheres que apresentam exantema durante a gestação e estimar a incidência de infecção pelo virus zika entre essas gestantes. Já a coorte de criança pretende caracterizar o quadro clínico e descrever o crescimento e desenvolvimento geral nos primeiros anos de vida de crianças identificadas com microcefalia.

Foto: Miva Filho - SES/PE

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A neuropediatra pernambucana Vanessa Van Der Linden é uma das agraciadas com o Leadership For The Americas Awards 2016, do Inter-American Dialogue. O reconhecimento foi na categoria de equidade social. A cerimônia de premiação será no dia 16 de novembro, em Washington, nos Estados Unidos.

O prêmio, que está em sua segunda edição, busca destacar as lideranças do serviço público com reconhecido trabalho em sua área de atuação. A neuropediatra Vanessa Van Der Linden atua em hospitais públicos e filantrópicos de Pernambuco, como o Hospital Barão de Lucena e a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).

A médica foi a primeira profissional, junto com sua mãe, a também neuropediatra Ana Van Der Linden, a identificar mudança no padrão de ocorrência da microcefalia em Pernambuco. O seu comunicado à Secretaria de Saúde de Pernambuco culminou com a notificação dos casos e alerta nacional e internacional para o problema.

A Inter-American Dialogue envolve uma rede de líderes globais que buscam uma governança democrática, prosperidade e equidade na América Latina e Caribe.

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25 líderes de pesquisas e instituições de saúde pública da América Latina, América do Norte, África, Ásia e Europa se encontram no Recife para o lançamento do ZikaPlan - Rede de Enfrentamento ao Zika da América Latina (Preparedness Latin American Network). Esta iniciativa global foi criada a partir da chamada do fundo de investimento em pesquisas Horizon 2020 da Direção Geral de Pesquisa e Inovação da Comissão Europeia. O ZikaPlan responde aos desafios postos pelo surto de Zika para as pesquisas e a saúde pública.

A iniciativa tem uma abordagem abrangente para combater a ameaça do vírus Zika, a partir de:

- preenchimento das lacunas do conhecimento e das necessidades no atual surto de Zika para melhor entender a doença, prevenir sua disseminação e educar as populações afetadas,

- construção de uma capacidade de resposta sustentável na América Latina a outras doenças infecciosas emergentes.

O impacto do surto de Zika pegou de surpresa os cientistas e autoridades em saúde pública e atingiu fortemente as populações mais vulneráveis. A gravidade do surto e mutação do vírus têm gerado inúmeras questões de pesquisa. Para tomar medidas efetivas, as autoridades em saúde precisam conhecer a magnitude da doença e seu impacto na saúde pública, quais intervenções irão funcionar melhor para prevenir e interromper sua disseminação e como melhor orientar e tratar os infectados. Esse surto de Zika, sem precedentes, tem também evidenciado a necessidade de construir ou reforçar capacidades locais. Em algumas regiões atingidas pelo vírus não existe a necessária infraestrutura de pesquisa para entender a ameaça e subsidiar a rápida tomada de decisões.

Para preencher essas lacunas, as instituições de pesquisa no consórcio ZikaPlan irão investigar a associação do vírus Zika com a síndrome congênita e complicações neurológicas, e a patogênese dos casos graves, através de uma série de estudos clínicos. Essas instituições irão explorar a transmissão vetorial e não vetorial e fatores de risco para dispersão geográfica, medir a carga da doença e investigar como o vírus tem evoluído, comparando antigas e atuais cepas. Além disso, o ZikaPlan irá explorar um conjunto de medidas preventivas pessoais, inovação em diagnóstico, modelagem de controle do vetor e estratégias de vacina para subsidiar decisões políticas. As ciências sociais também irão desempenhar um importante papel no ZikaPlan para determinar as melhores estratégias de comunicação para manter informada as comunidades afetadas.

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ZikaPlan irá trabalhar em conjunto com outros dois consórcios também financiados pela União Européia, ZIKAction e ZikAlliance, para estabelecer uma rede na América Latina e no Caribe. Essa rede dará suporte para o fortalecimento da capacidade local na América Latina para preparar e rapidamente lançar uma resposta de pesquisa em larga escala para as ameaças das doenças infecciosas emergentes. ZikaPlan irá contribuir para desenvolver um plano de pesquisa inter-epidêmica, redes de pesquisas, recomendações de políticas, treinamento, e estratégias de disseminação desenhadas para fortalecer permanentemente as capacidades locais, para além dos quatro anos de vigência do projeto. Os três consórcios irão criar órgãos comuns para o gerenciamento global dos programas científicos, comunicação e questões éticas, regulatórias e legais.

Zika Plan está recebendo €11.5 milhões (de euros) concedidos pelo programa de pesquisa e inovação Horizon 2020 da União Europeia, sob a convenção de subvenção de número 734584.

Visita ao HUOC – O grupo de pesquisadores visitou, na tarde da quinta (20/10), o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc/UPE), uma das unidades de referência no Estado no tratamento de bebês com microcefalia. O grupo conheceu o departamento de Infectologia Pediátrica da unidade.

Sobre o Consórcio ZikaPlan

ZikaPlan é coordenado por uma direção executiva composta pela Professora Annelies Wilder-Smith, diretora, representante da Universidade de Umeå; Professor Eduardo Massad, diretor substituto, representante da Universidade de São Paulo e mais 15 lideranças de grupos de trabalho de instituições parceiras. Conselhos consultivos independentes éticos, científicos e industriais dão apoio a essa direção executiva.

O consórcio constrói expertise e promove parcerias em diferentes áreas de pesquisas relacionadas ao Zika e outras doenças infecciosas emergentes. Os seus membros são oriundos de cinco continentes, sendo 13 da Europa, oito da América Latina, dois dos Estados Unidos da América, um da África e um da Ásia.

Membros do consórcio ZikaPLAN:
• Umeå University, Sweden
• London School of Hygiene and Tropical Medicine, UK
• University of Glasgow, UK
• The Chancellor, Masters and Scholars of the University of Oxford, UK
• Queen Mary University of London, UK
• Ulster University, UK
• Katholieke Universiteit Leuven, Belgium
• Erasmus Universitair Medisch Centrum Rotterdam, The Netherlands
• Institut Pasteur, France
• Fundacion Universidad del Norte, Colombia
• Universidad del Valle, Colombia
• Fondation Mérieux, France
• The University of Liverpool, UK
• La Jolla Institute for Allergy and Immunology, USA
• The University of North Carolina at Chapel Hill, USA
• Antwerp Institute of Tropical Medicine, Belgium
• Universidade de Sao Paulo, Brazil
• Instituto Butantan, Brazil
• Associção Técnica-Científica Estudo Collaborativo Latino Americano de Malformaçõess Congênitas, Brazil
• Fundação Oswaldo Fiocruz, Brazil
• Instituto Medicina Tropical Pedro Kouri, Cuba
• Institut Pasteur de Dakar, Senegal
• Schweizerisches Tropen- und Public Health-Institut, Switzerland
• International Vaccine Institute, Republic of Korea
• Universidade de Pernambuco, Brazil

O site do ZikaPlan está disponível no portal The Global Health Network.

Foto: Ascom - Fiocruz PE

Visita Donald Burke ao Merg Ascom Fiocruz PE 1

O titular da Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade de Pittsburgh, Donald Burke, visitou o Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia (MERG), na tarde da segunda-feira (31/10), para conhecer os estudos relacionadas à microcefalia e ao zika vírus conduzidos por esse Grupo.

O médico e pesquisador esteve reunido com pesquisadores do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz PE) para troca de experiências e, na terça-feira (1º.11), fez uma palestra sobre o tema Encontrando uma agulha no palheiro: Desenvolvimento de métodos diagnósticos usando grandes bibliotecas combinatórias.

Foto Sergio Santos 2

O resultado preliminar do estudo de caso-controle realizado no Recife e divulgado na revista The Lancet Infectious Disease mostra que recém-nascidos infectados pelo o vírus Zira apresentam risco 55 vezes maior de apresentar microcefalia do que os não infectados. Veja o artigo AQUI.

A pesquisa incluiu 32 recém-nascidos com microcefalia (casos) e comparou suas características com 62 bebês sem microcefalia (controle), todos nascidos entre janeiro e maio de 2016, em oito maternidades do Recife. O objetivo é investigar a associação entre a microcefalia e o vírus Zika, além de outros potenciais fatores de risco. Das 32 crianças com microcefalia, 40% (13 casos) tiveram infecção por Zika comprovada laboratorialmente (soro e/ou líquido cefalorraquidiano). Nenhuma das 62 crianças nascidas sem microcefalia tiveram resultado laboratorial positivo para a infecção pelo Zika, de acordo com a análise do soro. Nenhum desses 94 recém-nascidos participantes do estudo apresentou resultado positivo para doenças como toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes e sífilis (Torchs), que provocam malformações congênitas.

Para médica epidemiologista Thalia Velho Barreto, uma das integrantes do Microcephaly Epidemic Research Group (Merg), a associação geográfica e temporal entre a epidemia pelo vírus Zika e o posterior aumento no número de casos de microcefalia no Brasil gerou a hipótese da associação entre a infecção pelo vírus Zika na gravidez e a verificação de microcefalia ao nascimento. Desde então, inúmeras evidências apoiam essa suposição, como o isolamento do vírus Zika no tecido cerebral de fetos e recém-nascidos, e a microcefalia e anomalias cerebrais graves em recém-nascidos de mães com infecção pelo vírus Zika na gravidez. “Entretanto, muitas questões ainda permaneciam sem resposta, como o risco de microcefalia em recém-nascidos de mães infectadas durante a gravidez e os fatores que podem afetar esse risco. ”

“Com esses resultados preliminares do estudo de caso-controle, já podemos afirmar que a epidemia de microcefalia é o resultado da infecção congênita pelo vírus Zika”, afirma a pesquisadora. “A continuidade do estudo irá permitir analisar outros fatores que possam contribuir para reduzir ou potencializar o risco de microcefalia decorrente da infecção congênita pelo vírus Zika.”

Durante as análises também foi possível identificar que 11 das crianças com microcefalia (34,4%) apresentavam microcefalia severa, quando comparado o perímetro cefálico à média de crianças nascidas com a mesma idade gestacional e sexo. Outro resultado importante consistiu na elevada proporção de recém-nascidos pequenos para a idade gestacional (84%) entre aqueles nascidos com microcefalia, enquanto entre os 62 sem a malformação eram apenas 6,4%, provavelmente provocada pela infecção pelo Zika.

Para cada criança com microcefalia (caso), foram analisadas outras duas sem microcefalia e sem alteração cerebral ao exame de imagem ou outra malformação aparente (controles), nascidas com idade gestacional aproximada e um dia após o nascimento do caso. Todos os exames e coleta do material biológico das crianças e suas mães para a pesquisa ocorreram logo após o nascimento, com consentimento das mães.

Até o final do estudo, objetiva-se analisar 600 crianças, sendo 200 com microcefalia e 400 sem a malformação.

MULHERES – As mães das crianças participantes da pesquisa foram entrevistadas e, à semelhança dos recém-nascidos, realizaram exames laboratoriais para Zika, dengue, chikungunya e para as Torchs. Nas entrevistas, 59,4% (19) das mães de crianças com microcefalia não relataram a presença de exantema (manchas vermelhas na pele) durante a gravidez, o que também ocorreu em 77,4% (48) das mulheres com filhos sem a malformação. O estudo evidenciou ainda que 64% das mães de neonatos sem microcefalia foram infectadas pelo vírus Zika. “Esses resultados revelam uma alta proporção de mulheres infectadas pelo vírus Zika nessa primeira onda epidêmica que aconteceu no ano passado. Se os anticorpos que elas desenvolveram forem duradouros, elas estarão imunes à doença numa próxima epidemia”, analisa outra integrante do Merg, a pesquisadora Celina Turchi.

A pesquisa de caso-controle está sendo feita em oito maternidades do Recife: Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros da Universidade de Pernambuco (Cisam), Unidade Mista Professor Barros Lima, Maternidades Bandeira Filho e Santa Lúcia; e nos hospitais Barão de Lucena, Agamenon Magalhães e das Clínicas da UFPE.

O Merg é formado por pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade de Pernambuco (UPE), Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) e Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco e London School of Hygiene and Tropical Medicine-UK. A pesquisa conta com o financiamento do Ministério da Saúde (MS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS).

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