Uma das grandes preocupações do SUS, a qualidade dos serviços prestados à população está muito ligada à motivação dos profissionais de saúde. Identificar as possíveis associações entre o perfil sócio-demográfico e a motivação para o trabalho dos médicos do Programa Saúde da Família, na região metropolitana do Recife, foi o tema de dois anos de pesquisa de Flávio da Guarda, membro do Observatório de Recursos Humanos em Saúde do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, unidade da Fiocruz em Pernambuco.
Fatores como renda, formação profissional, idade e tipo de vínculo foram traçados pelo estudo, em paralelo à análise motivacional dos profissionais. A pesquisa fez uma amostra do perfil de 76 médicos em 10 municípios da RMR. Na coleta dos dados foi utilizado o IMST – Inventário da Motivação e do Significado do Trabalho, desenvolvido pela UFRN.
Influência Indireta – Segundo Flávio da Guarda, uma das surpresas do estudo foi constatar que “pouquíssimas variáveis sócio-demográficas na verdade interferem com a motivação”. Um aspecto interessante, de acordo com o pesquisador, é que a idade e o nível de qualificação dos médicos está bem acima da média nacional. “86% dos profissionais possuem cursos de pós-graduação e 76% têm mais de 40 anos de idade”, diz Flávio. A pesquisa mostrou também que 47% dos profissionais são mulheres e que a média salarial é, na maioria dos casos, de 12 salários mínimos.
A investigação revelou que dentro das equipes do PSF a motivação não está relacionada diretamente às características do indivíduo, mas é influenciada indiretamente por outros componentes do trabalho. Flávio da Guarda conta que “os fatores sócio-demográficos interferiram muito pouco na motivação dos médicos do PSF. A motivação neste caso está mais ligada a questões internas do trabalho, do que a traços específicos do profissional”. Segundo o pesquisador, “alguns componentes da motivação, como expectativas profissionais e reconhecimento pessoal, são influenciados por características como renda e escolaridade, mas a motivação em si sofre uma influência indireta neste caso”.
A pesquisa, em nível de mestrado (Stricto Sensu), foi apresentada no Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães em 21 de maio para uma banca formada pelo professor Ricardo Tavares, orientador da pesquisa; por Paulette Cavalcanti, pesquisadora do CPqAM; e pela Dra. Clara Maria Freitas, professora da UPE. Dois artigos estão em vias de publicação. O primeiro deverá ser descritivo do perfil sócio-demográfico dos profissionais de saúde, enquanto o segundo apresentará uma associação entre o perfil e a motivação dos médicos da RMR.